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O que água tem a ver com sentimentos ?

Foto do escritor: Duda RodriguesDuda Rodrigues

Desde pequena sempre fui fascinada pela água. Suas características de fluidez, movimento, constante mudança, força, amplitude, me permitiam divagar por infinitas possibilidades. Mostravam como algo poderia ser calmante e avassalador ao mesmo tempo, mais uma das dualidades da vida.

O nosso próprio corpo é composto majoritariamente por água, o sangue que flui em nossas veias em grande parte é agua, o ar que respiramos tem água, nós dependemos de água. E o fato é que um mergulho na água salgada e agitada do mar, ou na água gelada de uma cachoeira, e ainda um banho em água quente após um dia cansativo, despertam (ou quem sabe acolhem seja o mais ideal) sentimentos distintos, e me tornam diferente, de alguma forma, depois dessa interação. É como se as suas águas internas pudessem se comunicar com a água do meio, e assim chegassem, juntas, a uma conclusão sobre seu atual estado. É essa infinitude que me encanta, e me gera automaticamente diversas metáforas. Talvez a mais clara delas seja minha visão sobre nossos sentimentos.

Gosto de encarar nossas emoções como um rio constante que percorre nosso corpo, seguindo seu fluxo e reagindo aos estímulos do seu entorno, aumentando ou reduzindo seu ritmo, tornando-se turbulento ou estático de acordo com o incentivo.

Se existe um fluxo constante e desimpedido, o rio flui naturalmente independente das perturbações. Porém, se existe uma barragem em seu caminho, ele fica preso, tempestuoso, e quando a rompe, pode destruir tudo pela frente. Assim, o rio não é fluido (e afinal essa é uma característica essencial de um rio) ele fica entrecortado, poluído, machuca, e demora muito mais a se recuperar do que quando lidando com as turbulências em fluxo constante e livre.

Assim são os sentimentos, acolher cada um deles, seja ele pesado e turbulento ou tranquilo e límpido é um caminho mais saudável do que o de criar barreiras. Quando evitamos "deixar vir" uma sensação, ela se torna uma barragem, e ao se romper, as coisas serão muito piores do que poderiam ter sido. Gerar impedimentos aos sentimentos não os limita permanentemente, mas pode gerar possíveis futuras catástrofes emocionais.

Sentimentos bons e ruins fazem parte da nossa natureza, e permitir o fluxo contínuo da alegria, animação, fé, euforia... na mesma medida da tristeza, ansiedade, raiva... levam a um equilíbrio maior do nosso rio interno que evitar quaisquer desses sentimentos.

Por mais que não seja simples, é algo que tento praticar. E em caso de dificuldade, como eu disse, sempre existe a oportunidade de se utilizar das águas do meio para ajudar a ajustar as nossas águas pessoais. A fluidez e a força da água seguem me servindo de inspiração controversa para levar a vida como ela é: de forma complexa e vasta.


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